A profundidade de Clarice Lispector....

“E meu canto é de ninguém. Mas não há paixão sofrida em dor e amor a que não se siga uma aleluia.”

“Minhas desequilibradas palavras são o luxo de meu silêncio. Escrevo por acrobáticas e aéreas piruetas - escrevo por profundamente querer falar. Embora escrever só esteja me dando a grande medida do silêncio.”

“Esta é a vida vista pela vida. Posso não ter sentido mas é a mesma falta de sentido que tem a veia que pulsa.”

“Quero escrever-te como quem aprende”

“...em algum lugar ou em algum tempo existe a grande resposta para mim.”

“. Ouve-me, ouve o silêncio. O que eu te falo nunca é o que te falo e sim outra coisa”

“...sufoco porque sou palavra e também o seu eco.”

“Quero a vibração do alegre. Quero a isenção de Mozart. Mas quero também a inconseqüência. Liberdade? é o meu último refúgio, forcei-me à liberdade e agüento-a não como um dom mas com heroísmo: sou heroicamente livre. E quero o fluxo.”

“Eu sou antes, eu sou quase, eu sou nunca.”

“Sou um ser concomitante: reúno em mim o tempo passado, o presente e o futuro, o tempo que lateja no tique-taque dos relógios.”

“Sei o que estou fazendo aqui: estou improvisando. Mas que mal tem isso? improviso como no jazz improvisam música, jazz em fúria, improviso diante da platéia.”

“...sou sozinha, eu e minha liberdade. É tamanha a liberdade que pode escandalizar um primitivo mas sei que não te escandalizas com a plenitude que consigo e que é sem fronteiras perceptíveis.’”

“Não sei sobre o que estou escrevendo: sou obscura para mim mesma.”

“Minha aura é mistério de vida. Eu me ultrapasso abdicando de mim e então sou o mundo: sigo a voz do mundo, eu mesma de súbito com voz única.”

“Renuncio a ter um significado”

“Escuta: eu te deixo ser, deixa-me ser então.”

“Escrevo-te porque não me entendo.”

“Nesse âmago tenho a estranha impressão de que não pertenço ao gênero humano.”

“Há muita coisa a dizer que não sei como dizer. Faltam as palavras. Mas recuso-me a inventar novas: as que existem já devem dizer o que se consegue dizer e o que é proibido. E o que é proibido eu adivinho. Se houver força. Atrás do pensamento não há palavras: é-se.”


“Agora é um instante. Já é outro agora.”

“Ouve-me, ouve o meu silêncio. O que falo nunca é o que falo e sim outra coisa....Capta essa outra coisa de que na verdade falo porque eu mesma não posso. Lê a energia que está no meu silêncio.”

“Vou parar um pouco porque sei que o Deus é o mundo. É o que existe. Eu rezo para o que existe?”

“Porque não posso mais carregar as dores do mundo. Que fazer quando sinto totalmente o que outras pessoas são e sentem? Vivo-as mas não tenho mais força. Não quero contar nem a mim mesma certas coisas. Seria trair o é-se. Sinto que sei de umas verdades. Que já pressinto. Mas verdades não têm palavras. Verdades ou verdade? Não vou falar no Deus, Ele é segredo meu.”

“Você tornou-se um eu. é tão difícil falar e dizer coisas que não podem ser ditas. É tão silencioso. Como traduzir o silêncio do encontro real entre nós dois? Dificílimo contar: olhei para você fixamente por uns instantes. Tais momentos são meus segredos. Houve o que se chama de comunhão perfeita. Eu chamo isto de estado agudo de felicidade.”

“Precisando mais do que a força humana. Sou forte mas também destrutiva. O Deus tem que vir a mim já que não tenho ido a Ele. Que o Deus venha: por favor. Mesmo que eu não mereça. Venha. Ou talvez os que menos merecem mais precisem. Sou inquieta e áspera e desesperançada. Embora amor dentro de mim eu tenha. Só que não sei usar amor. Às vezes me arranha como se fossem farpas. Se tanto amor dentro de mim recebi e no entanto continuo inquieta é porque preciso que o Deus venha. Venha antes que seja tarde demais. Corro perigo como toda pessoa que vive. E a única coisa que me espera é exatamente o inesperado. Mas sei que terei paz antes da morte e que experimentarei um dia o delicado da vida. Perceberei - assim como se come e se vive o gosto da comida. Minha voz cai no abismo de teu silêncio. Tu me lês em silêncio. Mas nesse ilimitado campo mudo desdobro as asas, livre para viver. então aceito o pior e entro no âmago da morte e para isto estou viva. O âmago sensível. “

“Diga-me por favor que horas são para eu saber que estou vivendo nesta hora. Estou me encontrando comigo mesma: é mortal porque só a morte me conclui. Mas eu agüento até o fim. Vou lhe contar um segredo: a vida é mortal. Vou ter que interromper tudo para te dizer o seguinte: a morte é o impossível e o intangível. De tal forma a morte é apenas futura que há quem não a agüente e se suicide.”

“Eu é que estou escutando o assobio no escuro. Eu que sou doente da condição humana. Eu me revolto: não quero mais ser gente”




( alguns trechos retirados por mim do Livro: Água Viva - de Clarice Lispector...)

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A profundidade de Clarice está nas estrelinhas e nas linhas mais explicitas, ela consegue nos transmitir a força, delicadeza e pureza de sua alma somente com palavras...Existe algo mais puro?

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Por Sarah Jorge

6 comentários:

Anônimo disse...
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Vanessa disse...

Olá Sarah!
Realmente Clarice Lispector é de
uma inspiração profunda,em suas palavras vê-se como é a alma de uma
artista.
Até Breve!
Tenha um ótimo dia!

Anônimo disse...
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Unknown disse...

Clarice é um pouco de nós se nos conhecéssemos mais intimamente.Se penetrássemos sem o menor puder nos arredores da alma e de toda nossa emoção.Se ouvíssemos mais um pouco sobre o que temos pra falar de nós mesmos.Se fossemos fieis com nossos místérios e nosso segredos ... seríamos muito mais Lispectors se nos respeitássemos verdadeiramente e fóssemos mais sensíveis à vida e a nós mesmos !

bizarro con interrupciones disse...

Goste muito das palavras de Clarice Lispector que você tirou do livro.

É muito triste que Clarice Lispector nao seja tao leida aquí em Espanha. Mais obrigado pelo suo post!

Unknown disse...

Clarice Lispector divagava solene sobre as letras; ela transformava passos de uma senhora em vôos de borboletas. Ela se transportava. Ia aonde mora o segredo!...