Como pode - Paulo Leminski



Soa estranho, esta manhã,
tudo o que sempre foi meu, como pode?
Como pode que esse som lá fora,
os sons da vida, a voz de todo dia,
pareça ficção científica?

Como pode que esta palavra,

que já vi mil vezes e mil vezes disse,

signifique mais nada,
a não ser que o dia, a noite, a madrugada,

a não ser que tudo não é nada disso?

Pode que eu já não seja mais o mesmo.

Pode a luz, pode ser, pode céu e pode quanto.

Pode tudo o que puder poder.
Só não pode ser tanto.


Marginal é quem escreve à margem,

deixando branca a página para que a
paisagem passe
e
deixe tudo claro à sua passagem.


Marginal, escrever na entrelinha,
sem nunca saber direito

quem veio primeiro,
o ovo ou a galinha.

[Paulo Leminski]



Poema retirado do Livro
DISTRAIDOS VENCEREMOS - PAULO LEMINSKI

Dica de Leitura para todos.

Gostei muito desse livro.




Leiam mais Paulo Leminski, ele escreve de um jeito leve e carinhoso, sabe dizer grandes verdades em poucas linhas.
É um mestre.



Um Abraço á Todos que Acompanham o Borboletas e Poesias.
Em breve postarei mais textos meus.


Sarah Jorge

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